Isso porque entra neste mundo,
passamos a compartilhar ansiedades semelhantes e, na internet, encontramos
linguagem e expressões próprias que se reproduzem nos grupos de discussão e
blogs. Tem as “tentantes”, “fivetes”, “gravidinhas”, “estrelinha” (quando se
referem ao filha/a), a “ultra” (que é o ultrassom) e várias outras.
Aí quando temos as recém
chegadas, não posso dizer que meu caso de uma pessoa experiente, mas no segundo
tratamento já temos uma noção do que vai acontecer. Vale a pena refletir um
pouco com a “montanha russa” de emoções pelas quais passamos, são muitos altos
e baixos.
Tudo isso começa antes mesmo do
tratamento, porque em geral passamos por outros antes. No meu caso, comecei
como uso de reguladores da ovulação (como Serophene) para coito programado por
ter ovários policísticos e, como não deu certo, tinha programado uma tentativa
de inseminação artificial (IIU) e que passei para a FIV porque tinha muitos
folículos com a medicação.
Tudo isso vem acompanhado de uma
série de exames. No meu caso, fiz a histerossalpincografia para ver se as
trompas não estão obstruídas (dói pra caramba!), depois ressonância magnética
para verificar os miomas (mais de uma vez, para acompanhar se cresciam, o que
não podia acontecer!), exame para saber o estoque de óvulos (anti-mulleriano),
videolaparoscopia (para verificar se não endometriose ou alteração no útero (aí
com anestesia geral e internação e tudo), além dos exames genéticos (como
mutação no gene da metilenotetrahidrofolato) ou ligados à trombofilia (fator
antinúcleo FAN, cardiolipina, fator V de Leiden, mutação do gene da protombina,
proteína C, proteína S, anti-trombina III, MTFRH e hemocisteína). Fiz também o
Cross Match para analisar a compatibilidade imunológica (mas não fiz o
tratamento com as vacinas.Além do exame do marido, para avaliar os nadadores,
claro.
Ufa... e se tudo está em ordem,
partimos para o tratamento. Simples, não? Nem um pouco. Aí que a ciência requer
um esforço maior nosso de compreensão de todo o processo e consciência sobre as
estatísticas do tratamento, que não é infalível, mas aumenta as probabilidades.
Pé no chão e pensamento positivo
na mente. OK, vamos lá. Começando o estímulo e aí a bomba de hormônios começa a
agir no nosso corpo que, em um ciclo natural, produz um óvulo por mês e vamos
artificialmente mudar isso para produzir muitos folículos. No me caso, foram 26
no primeiro ciclo e depois 30 no segundo. A barriga fica inchada, um pouco
desconfortável e temos a rotina das injeções na barriga (que nos faz perder o
medo de agulha) e exames de sangue para análise dos hormônios + ultrassom a cada
dois dias. Tudo isso exige dedicação de tempo na nossa rotina e reservas
financeiras, pois é uma grana. Para cada ciclo de FIV, gastei cerca de R$17mil.
Com a punção, é importante ter
claro, que geramos vários folículos, mas nem todos contém óvulos maduros e
temos cerca de 5 a 6 destes. Aí pode ser uma FIV tradicional ou a ICSI (com a
injeção do espermatozoide no óvulo e foi esta que fiz). Depois disso, ne, todos
os óvulos implantados que são os pré-embriões se desenvolvem a partir do
terceiro dia. Aí temos que torcer para vencerem esta barreira. Quando eles
crescem, alguns médicos transferem no D3 para que continue a se desenvolver no
útero e outros esperam até D5 como blastocistos.
Aí vem a decisão sobre a
transferência no ciclo fresco ou se os óvulos serão congelados para a TEC
depois (Transferência dos Embriões Congelados). Aí também tem a decisão de
quantos embriões transferir, a preparação, tudo.
Depois da transferência vem o
repouso e a expectativa dos dias intermináveis até o exame Beta. Parece uma
espera sem fim, uma tortura. Quando o negativo vem, é uma sensação de luto.
Luto mesmo, mas por algo que não chegamos a ter, mas que em nossa mente e
coração já existia. Não é fácil lidar com isso, além das reações físicas, como
uma mega TPM. Se outras pessoas sabem do tratamento, temos que dar satisfação e
por isso foi um segredo meu e do meu marido, opção nossa mesmo não envolver a
família.
Algumas mulheres conseguem na
primeira tentativa de FIV, mas nem sempre isso acontece ou é um menor número. É
bom comum que se consiga na segunda ou terceira tentativa e temos relatos em
blogs de sucesso na nona ou décima.
Aprendemos a comemorar a cada
etapa e não desistir. Buscar forças, apoio de amigas virtuais que nos
compreendem e compartilham suas histórias. Espero ter ajudado com minha
experiência. Obrigada a quem me acompanha.
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