Gente, este texto é meio reflexivo, um pouco de resgate, um pouco de
deprê básica em um domingo chuvoso e uma mistura de vários outras coisas que aprendemos
a lidar.
É uma análise sobre as diferentes fases que passamos quando temos
dificuldades para engravidar. O engraçado é que, quando somos adolescentes ou
estamos na faculdade, vivendo um turbilhão de coisas e emoções, morrendo de
medo da gravidez e, mesmo com chances mínimas de ter acontecido algo, ficamos
ansiosas esperando pela menstruação.
Depois do casamento, quando decidimos ter filhos, que é o momento
certo, coisa e tal, os primeiros sinais de que o processo não será tão fácil e
então entramos na primeira fase: NEGAÇÃO.
Na fase da NEGAÇÃO, não queremos aceitar, que em hipótese alguma, pode
ter algo errado conosco, que pode ser que o stress do trabalho esteja afetando,
que depois de uma certa idade demora mais mesmo, que o fato de ter tomado
anticoncepcional por um tempo pode influenciar e outras desculpas, porque não
queremos aceitar que pode haver um problema.
Depois de um ano de tentativas, se começa a perceber a realidade: tem
algo errado com um dos dois. E a primeira coisa que a mulher pensa, é comigo.
Aí começa a corrida ao ginecologista e a submissão à uma bateria de exames, já
que os 35 anos chegaram e todo as estatísticas começam a jogar contra nossas
expectativas. Aí entramos na segunda fase, que é da INVESTIGAÇÃO.
Na fase da INVESTIGAÇÃO é uma sequência louca de exames e ficamos igualmente loucas com os
possíveis resultados e a cada um deles pensamos: “deve ser isso que está
atrapalhando”. No meu caso, teve a fase 1, que é a bateria geral dos exames de
sangue, para ver hormônios e tal. Aí temos uma ideia geral da reserva ovariana,
do funcionamento da tireóide e também o espermograma do marido. Tudo OK,
parte-se para a fase 2, dos ovários policísticos, quando pesquisei um monte
sobre isso e fiz vários ultrassons e tomei Elani, um anticoncepcional de uso
contínuo. Depois teve a fase 3, quando problema seria de ovulação, quando tomei
Serophene por 5 ciclos para estímulo do coito programado e nada. Aí veio a fase
4, da análise morfológica, quando fiz a histerossalpingrafia para ver se as trompas
não estavam obstruídas, um exame tão doloroso que fiquei aliviada quando estava
tudo certo e não precisaria passar por isso de novo. Aí veio a fase 5, quando
um dos vários médicos com quem me consultei pediu um tal de exame CA 125 e o
resultado sugeriu endometriose. Esta foi a fase mais longa e que trouxe mais
dúvidas e a busca por diferentes especialistas. Depois de um tempo, decidi pela
videolaparoscopia, que demonstrou não ter nenhum foco de endometriose, mas vários
miomas e um deles bem grandão, com cerca de 10cm de diâmetro. Aí teria que
decidir se faria uma cirurgia para retirada dos miomas (tipo uma cesariana ou
toparia um tratamento mais heavy para engravidar logo e torcer para os
hormônios fazerem o miomão parar de crescer).
Aí se percebe que uma decisão deve ser tomada para a fase seguinte, que
é da AÇÃO.
Quando entramos na AÇÃO, é quando optamos por fazer algum tratamento de
reprodução assistida e, no meu caso, foi primeiramente pela IA (inseminação
artificial), já que não havia indícios de maiores problemas. Com a indução da
ovulação e 24 folículos, resolvemos mudar a rota para uma FIV e evitar a
gravidez múltipla. Aí quando se decide pela FIV, são outras fases.
CICLOS DENTRO DE CICLOS
A vida é assim, resumida em fases e a busca pela maternidade a cada momento nos coloca em um pequeno ciclo.
Em cada FIV ou TEC, começamos outros ciclos, que chamei de “ciclos
dentro de ciclos”, pois quando chegamos neste estágio, já passamos por outras
fases.
E o engraçado que, ao pesquisar na internet, em blog e grupos de
discussão, a mulherada está unidade e compartilha suas experiências como num
grupo de ajuda mútua, muito louco. A linguagem utilizada, depois de passarem
por tantos exames, já é técnica e as siglas aparecerem, como GO, TEC, US,
dentre várias outras. Embora em proporções diferentes, parece um grupo de
vigilantes do peso ou de alcoólicos anônimos onde o grupo dá força e a troca de
experiências bem sucedidas nos fortalece.
Então, dentro dos ciclos da FIV, temos a fase 1, que é conhecer cada um
dos medicamentos na fase da indução da ovulação, com as malditas injeções na
barriga e ultrassons constantes. Aí entra a fase 2, que é a punção, quando são
retirados os óvulos e ficamos torcendo para que todos folículos tenham “sementinha”
e depois sejam fertilizados para virar embriões. Na fase 3, ficamos
acompanhando a evolução dos zigotinhos para a transferência. Aí começamos a
procurar os sintomas de cada uma nos intermináveis 12 dias até fazer o exame
Beta. Para algumas, começa um novo ciclo com a gravidez, mas infelizmente, para
algumas tem a fase 4, que é a frustação com o negativo e a força para começar
tudo de novo com a investigação dos motivos de falha na implantação dos
embriões. No meu caso, surgiram novos
exames, como os exames para trombofilia e o Cross Match, para aloimunidade, quando
comecei a pesquisa sobre imunidade da reprodução.
Mas acho que ainda, dentre os motivos para o negativo da FIV, além das
vacinas, terei uma nova fase de pesquisa, que é a “janela de implantação”. Não
sei muito sobre isso, mas como minha médica atrasou em um dia a transferência,
fiquei com esta questão pendente como um dos possíveis motivos, já que tudo
funciona tão sincronizado no tratamento, se atrasar um período, isso atrapalha?
Ainda vou pesquisar um pouco mais.
Uma colega, com quem tenho trocado mensagens também deu a dica que a
falta de vitamina D pode atrapalhar, então vou pensar nisso. Tem ainda os exames para cariotipos e células NK (Natural Killers) que não fiz.
Meu marido disse que eu estava ficando paranoica (embora falasse isso
de algumas mulheres no e-family, ele disse que tinha me transformado em uma...)
Bom, ainda não sei quais são as fases futuras, uma delas pode ser a de DECISÃO, que não descarto uma adoção, se não der certo. Mas o que espero de verdade é entrar na fase da gravidez, com certeza!
Puxa, não sou muito de escrever coisas pessoais, pois o meu talento é
para escrever relatórios técnicos, mas foi um desabafo, já que este blog é um
relato do que estou sentido e era isso que queria hoje compartilhar com vocês.
Na verdade, não sei se há alguém acompanhando, são tantas pessoas na
web e não dá para saber com exatidão quem acessa. De qualquer forma, espero
estar ajudando alguém ao compartilhar minha experiência.
Se alguém leu até o final, obrigada pela paciência.
Eu li e gostei muito...
ResponderExcluirescreva os próximos relatos vou adorar ler.
ResponderExcluirMichele, realmente sumi depois de dezembro de 2013. Para atualizar, agora, em novembro de 2014, vou iniciar novo ciclo.
ExcluirVejo que hoje tenho muito mais informações que quero compartilhar com vocês. Espero poder ajudar com minha história. Bj
Oi, Michelle! Que bom ter gostado do texto, fico muito feliz em saber que posso compartilhar estas sensações com pessoas que estão na mesma sintonia.
ResponderExcluirNa solidão desta busca pela fertilidade, optei por não contar para ninguém da família, ficando apenas eu e o meu marido. Mas a melhor forma de companhia é publicar aqui no fórum para compartilhar com vocês.
Cada comentário que recebo me dá mais força. Obrigada, Michele.
Bj, Dani
A minha segunda FIV será em dezembro, torcendo para desta vez dar certo!
ResponderExcluirSo quem passa por esse turbilhao, pode nos entender. Sempre digo la no blog que, é preciso fazer TODOS os exames possiveis, infelizmente muitos sao caros, mas é preciso fazer antes de iniciar outro tto. Estou ainda bem frustrada com meu negativo que recebi essa semana, tenha força pois você nao esta sozinha!
ResponderExcluirAna, realmente é tudo caro, cercado de ansiedade, expectativas, a cobrança da sociedade 9que racionalmente dizemos não que não nos importa, mas no fundo, dói muito a sensação de frustação). Depois do negativo e estar "paralisada" sobre o assunto, descontando no trabalho por jornadas de até 14horas por dia para não pensar no assunto, estou de volta! Obrigada pelo carinho. Bj
ExcluirOi Dani, também li e fui me identificando em cada fase. Além de toda a dor da infertilidade, tem esse sentimento de solidão :(
ResponderExcluirNão sei a quantas anda seu tratamento, mas mando os melhores desejos.
Abraço,
Catarina, foi difícil e ainda não consegui... Vou colocar os relatos aqui do novo ciclo, pois vou começar nova estimulação. Agora tenho mais informações para compartilhar, ainda que a expectativa continue lá em cima (rs...), mas vai dar tudo certo! Obrigada pelo apoio. Bj
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