Há cerca de 5 anos, quando comecei a investigar as causas de uma
possível infertilidade, já com 33 anos, morria de medo que algum dos vários
exames – realizados repetidas e exaustivas vezes – mostrasse que eu não podia
engravidar. Isso era um fantasma horrível, mas que com o passar do tempo nem
achei o pior de todos, pois percebi que outro tão medonho quanto é não saber as
causas da infertilidade. A questão é: “Por que não consigo engravidar?”
Apesar de todos os esforços e especialistas consultados, de todo grana,
ansiedade e dor, ainda não tenho a resposta.
Sabe... sempre tive horror deste assunto, desde a adolescência e vou
contar o porquê. É bem boa, mas vou compartilhar porque assim este besteirol
sai da minha cabeça e no texto até pode parecer engraçado – e quando eu começar
a rir de tudo isso ou um dia chorar de felicidade por ter superado tudo com
meus filhos, fica um registro.
Acho que este blog-diário tem este papel não é?! Acho que sim. OU
melhor, espero que sim por poder compartilhar com vocês.
Aos 13 anos, quando todas as amigas já tinham peito, usavam soutien e
também já tinham menstruado, eu nada. Nem peito nem o “chico”, como chamavam à época.
Era super encanada e pensava: será que não vou menstruar nunca? Será que não
vou poder ter filhos?
Aí um dia, morando em cidade beeeem do interior de SP, havia uma
vidente muito famosa na região, destas do tipo que resolvem sequestros,
aparecem na tela e tal. Ela fazia um trabalho voluntário e meu pai ajudou em um
dos projetos. Não lembro bem o motivo, mas ele tinha que entregar algo à ela e
fui junto. Chegando lá, ela segurou bem na minha mão e disse: “Que menina linda
e vistosa, pena que tem um problema no útero/ovário que não vai conseguir
engravidar”.
Putz, morri alí. Imaginem isso na cabeça de uma adolescente normal. E
agora, na cabeça de uma adolescente paranoica. Pois bem, sofri por quase um ano
em silêncio até finalmente ficar menstruada aos 14 anos. A vida seguiu normal.
Os peitos não cresceram e então resolvi com próteses de silicone quando adulta
aos vinte e poucos, tudo certo. Até que tudo voltou à tona quando tentei
engravidar.
Mais uma vez, se alguém que me conhece estivesse ouvindo isso de mim,
não iria acreditar, pois sou muito cética com estas questões, altamente
racional. Tenho sempre a ciência como premissa, pois tudo que estudei na
pós-graduação, no mestrado e doutorado me levam à objetividade dos fatos. Sei que
não é lógico ou coerente, mas julgamos tanto as pessoas e neste caso, me
exponho sem querer ser julgada.
Nos tratamentos, continuo me pautando pelas possibilidades que o avanço
da ciência oferece, a maravilha do que foi anunciado nos anos 80 como o “bebê
de proveta”, lembro bem quando era
criança em uma reportagem do Fantástico. Mas o desabafo é porque há razões que
nossa razão não precisa explicar, elas apenas existem. Talvez este fosse o
momento para libertar um dos fantasmas que estavam comigo.
Escrever estes textos mais pessoais tem sido difícil para mim. Como sou
acostumada com textos técnicos, falar sobre o que sinto é mais complexo do que
escrever um artigo científico, mas só gostaria de registrar o quanto tem sido
uma experiência reconfortante, principalmente pelos comentários de apoio que
recebo. Achei no começo que ninguém fosse ler e agora são tantas mensagens lidas,
obrigada!!!
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